Cascais - Roteiro de S. Telmo

A Confraria de Nossa Senhora dos Prazeres e S. Pedro Gonçalves Telmo encontra as suas raízes na Confraria de Nossa Senhora do Socorro, que em 1587 já dispunha de hospital e capela, nas imediações da Praia da Ribeira, em Cascais. Em 1720, a Igreja de S. Pedro Gonçalves, popularizada pela designação de Igreja dos Navegantes, por ter sido construída a expensas desta Confraria, ainda não estava completa, mas pronta para a celebração do culto, na sequência da conclusão da capela-mor. Todavia, devido a dificuldades financeiras, por escritura de 1844-09-26, a Confraria seria forçada a estabelecer, com a Ordem Terceira da Penitência, a administração e uso conjunto da Igreja. Em 1856 a Confraria já não existia, como o denuncia a correspondência enviada pela Administração do Concelho ao Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Cascais, em que se alude à “extinta Confraria de S. Pedro Gonçalves”. Em 1911 a igreja foi mesmo entregue à Paróquia de Nossa Senhora da Assunção e da Ressurreição de Cristo, de Cascais. Em 1937, uma comissão fabriqueira decidiu mandar executar várias reparações e concluir as obras da igreja que seria inaugurada em 1942.

 

O culto de S. Pedro Gonçalves Telmo, santo protetor dos pescadores, gozava de particular devoção entre os homens do mar de Cascais e cuja insistência na canonização, mereceu a atenção do Papa Paulo V, que autorizou a atividade piscatória nos dias santos e aos domingos, sendo o produto da faina destinado aos custos das diligências nesse sentido, como nos relata a Chronica de São Domingos, tomo1º, livro 4º, capítulo 30:
“Tudo que pescam aos domingos e dias santos, e o que cabe numa rede, que cada barco leva, é obrigação de ser para a Casa de San Pedro Gonçalves, e suas obras, por ser assim concessão do Papa Paulo V e juntamente para a sua canonização”.
A Igreja dita dos Navegantes tem aliás um importante painel de azulejos apresentando S. Pedro Gonçalves Telmo, o patrono dos mareantes.

IGREJA DE NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES
Antiga igreja dos Homens do Mar, tem a sua origem numa primitiva ermida existente no local já no século XVI, consagrada a Nossa Senhora do Socorro.
Em 1587 o Hospital dos pescadores é anexado à Santa Casa da Misericórdia de Cascais, ficando os mareantes apenas com a sua confraria de Nossa Senhora do Socorro. Em meados do séc. XVII a Capela constitui sede de freguesia por motivo de uma campanha de obras na igreja paroquial da Assunção.
Cerca de 1720 a Irmandade dos Marítimos de Cascais manda edificar a igreja muito provavelmente no local onde já existia a ermida do séc. XVI, sob a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres e S. Pedro Gonçalves.
Resistente ao terramoto, a chamada “igrejinha dos homens marítimos” mantinha em 1873 a invocação de S. Pedro Gonçalves.
A 9 de Agosto de 1942 são finalmente inauguradas as torres da igreja, custeadas por esmolas em dinheiro e materiais, voltando a efetuar-se a grande procissão, tradição secular interrompida possivelmente em 1834.
A Igreja dos Navegantes constitui a mais original de todas as igrejas da vila do ponto de vista arquitetónico. Constitui uma das raras igrejas portuguesas setecentistas em que a nave reveste forma octogonal não percetível na volumetria exterior. Exteriormente é um edifício barroco sóbrio, de frontão com remate contracurvado e pequenas aletas articulando a fachada principal com as laterais. O desenho das torres é do arquiteto Tertuliano Marques.
No interior salientam-se os mármores brancos e rosados, provenientes de S. Domingos de Rana.
A nave, de forma octogonal, apresenta três altares laterais, dois deles provenientes do convento de carmelitas: de Nossa Senhora da Piedade do lado esquerdo; de Nossa Senhora de Fátima e Santa Teresa de Ávila do lado direito. Nas paredes duas pinturas de cada lado representando à direita a Adoração dos Magos e São Paulo e São João Evangelista: à esquerda Nascimento de Jesus e São Pedro e Santo André.
Na capela-mor as paredes laterais apresentam dois painéis de azulejos de cerca de 1720, correspondentes a Nossa Senhora dos Prazeres do lado esquerdo, e de S. Pedro Gonçalves do lado direito, lembrando as antigas invocações.

CASCAIS – VILA DA CORTE, OITO SÉCULOS DE HISTÓRIA
Terra de homens do mar, de longe vinha a veneração de Cascais aos santos seus protetores. Destaca-se, entre eles, a que consagravam a S. Pedro Gonçalves. A insistência dos pescadores para a canonização de Frei Pedro Gonçalves Telmo levou o Papa Paulo V a conceder autorização para se pescar aos domingos e dias santos. O produto recolhido era destinado não só às obras da igreja de S. Pedro Gonçalves, mas ainda para as diligências sobre a canonização do santo, como refere na História de São Domingos o erudito Frei Luís de Sousa.
Na vila ergueram os pescadores a sua curiosíssima Igreja dos Navegantes. Impossível é apontar-se a data da sua primitiva construção, somente as pinturas ainda existentes: a adoração dos Pastores, adoração dos Magos, Pentecostes, S. Pedro e Santo André, S. Paulo e S. João Evangelista, podem levar à conclusão da igreja remontar, pelo menos, aos fins do séc. XVI. Há, no entanto, que ter em consideração o facto de estes quadros não terem pertencido de início à igreja, mas sim trazidas de qualquer outro templo (como sucedeu com algumas das imagens que vieram da demolida igreja do Convento da Piedade).
Sabe-se, no entanto, que ela foi reedificada, segundo a data que consta dos seus admiráveis azulejos: 1729. É um edifício de arquitetura barroca e, embora sóbrio, cheio de interesse e, sem dúvida, dos mais belos de Cascais. Teve, além da invocação de S. Pedro Gonçalves, a de Nossa Senhora dos Prazeres, mas comummente foi sempre conhecida pela Igreja dos homens do mar, seus fundadores quando reunidos na antiga Irmandade dos marítimos de Cascais e ultimamente a de Igreja dos Navegantes. Nos dois magníficos painéis de azulejo ainda existentes veem-se, dum lado, S. Pedro Gonçalves e do outro Nossa Senhora dos Prazeres, ambos protetores dos pescadores.
De longe vinha a veneração dos homens do mar por S. Pedro Gonçalves Telmo, como o revela já, por exemplo, a História Trágico Marítima e o imortal cantor de “Os Lusíadas”: Vi claramente visto o lume vivo,
Que a marítima gente tem por Santo,
Em tempo de tormenta e vento esquivo
De tempestade escura e triste pranto.

Também mais modernamente, o grande Poeta Afonso Lopes Vieira, que ao mar dedicou muitos dos seus poemas, escreveu, nas Ilhas de Bruma:
Assim nos guies e salves,
Senhor S. Pedro Gonçalves!
E ainda:
Que tamanha devoção!
Mas Frey Pedro, no mar,
Acendia a luz nos mastros
Para a tormenta amainar.

Quando se lá acendia
essa benta luz de encanto,
todos no convés, em grita:
– Salva, salva, ó Corpo Santo!

Esta mesma devoção dos homens do mar e a sua influência na formação da vila ficou para sempre rememorada no brasão da bandeira da vila. As redes, como símbolo heráldico. Ainda hoje toda a parte da vila, frente à praia da Ribeira, nos testemunha a existência do velho bairro piscatório. (1)

(1)- toda a informação aqui disponibilizada foi gentilmente compilada e cedida pela Biblioteca Municipal Casa da Horta da Quinta de Santa Clara, Cascais.

 

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