O mareante foi, por natureza, um homem devoto, devido aos riscos que enfrentava no mar. A denominação Corpo Santo refere-se a S. Pedro Gonçalves Telmo, patrono preferido pelos navegantes portugueses.
Algumas confrarias do Algarve escolheram S. Telmo como seu patrono enquanto outras, nomeadamente a comunidade de pescadores de Lagos no séc. XVIII, escolheram como patrono S. Gonçalo de Lagos. A devoção a este santo deve-se, muito provavelmente, ao facto de se ter dedicado às lides do mar na sua juventude e ter pertencido a uma família de pescadores. Nasceu em Lagos em 1360, junto das Portas do Mar, onde hoje se encontra o seu nicho e imagem. São-lhe atribuídos vários milagres, em benefício das gentes do mar, invocando a sua especial proteção.
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- Edifício da antiga Igreja do Compromisso Marítimo de Lagos.
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- Portal da Igreja do Compromisso Marítimo de Lagos. 1930.
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- Portal da Igreja do Compromisso Marítimo de Lagos, atual.
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- São Gonçalo de Lagos no Museu Dr. José Formosinho.
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- São Gonçalo de Lagos.
São Gonçalo de Lagos é um beato português, venerado sobretudo pelos pescadores do Algarve que buscam a sua proteção enquanto estão no mar. São Gonçalo viveu como Frade da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, tendo-se dedicado à pregação enquanto superior de alguns mosteiros da sua ordem. Nasceu em 1360, em Lagos, e morreu a 15 de Outubro de 1422 no Convento de Nossa Senhora da Graça de Torres Vedras. Foi beatificado em 1778 pelo Papa Pio VI.
A classe de mareantes aparece, ao longo dos tempos, como um grupo numeroso e de certo modo influente, o que se pode comprovar pelos sucessivos privilégios e isenções concedidos pelos monarcas aos marítimos do Algarve em reconhecimento dos serviços prestados à navegação, à economia, à assistência e à segurança costeira.
Esta autonomia, aliada a uma coesão e espírito de solidariedade únicos, levaram a que os mareantes se associassem, desde a Idade Média, em associações de socorros mútuos com caráter religioso, também designadas por Casas ou Confrarias do Corpo Santo, mais vulgarmente conhecidas por Compromissos Marítimos. Desde o séc. XV até finais do séc. XVIII, constituíram-se em Lagos e em diversos outros pontos do Algarve. Para além da assistência religiosa e de apoio monetário em caso de indigência ou velhice, as associações de mareantes forneciam aos seus membros cuidados de saúde. Algumas destas instituições, como as de Tavira, Faro e Lagos, tinham hospital privativo desde o séc. XVI. Outros possuíam, na casa do próprio “Compromisso”, uma farmácia, com boticário residente. Dispunham igualmente de um médico que aí fazia atendimento aos associados e familiares. As referências documentais mais antigas que se conhecem no Algarve, em relação a estas confrarias, remontam a finais do século XV, sendo os primeiros estatutos conhecidos datados do séc. XVI. Na “Sala dos Despachos”, a divisão mais importante da associação, por ser nela que tinham lugar as reuniões da “Mesa do Compromisso” e a tomada de decisões, encontram-se expostos alguns “Livros de Estatutos” das diferentes confrarias algarvias, bem como vária documentação original pertencente ao fundo do Arquivo Distrital de Faro.
“A LACOBRIGENSE”, ASSOCIAÇÃO DE SOCORROS MÚTUOS
A “A Lacobrigense” Associação de Socorros Mútuos fundada em 1938 tem a sua origem na Irmandade do Corpo Santo dos Mareantes e Pescadores da Cidade de Lagos, cujos Estatutos Setecentistas remontam a 15 de Janeiro de 1749, os quais não constituem mais do que uma reforma de outros, conhecidos nos finais do século XV, mais especificamente em 1497, no reinado de D. Manuel I. A partir de 1834, as Confrarias Medievais de índole religiosa foram extintas e foram progressivamente substituídas por Associações de Compromissos, de Montepios, etc., as quais mantiveram o espírito medieval das Confrarias fundadas na Idade Média embora com Estatutos atualizados à contemporaneidade vigente. Em 1999 passaram os 250 anos da atribuição dos seus Estatutos Setecentistas por D. João V a esta Confraria Medieval de Lagos que numa sucessão dos tempos encontrou eco, nos objetivos para que foi fundada, através de uma Instituição de Solidariedade Social existente neste Município e conhecida por todos simplesmente por “A Lacobrigense”.
Nota- todas as informações relativas à presença de Confrarias e Irmandades em Lagos, foram gentilmente compiladas e cedidas pela Divisão de Educação, Comunicação, Cultura e Ação Social da Câmara Municipal de Lagos.