Póvoa de Varzim - Roteiro de S. Telmo

O culto de S. Pedro Gonçalves Telmo anda aliado na Póvoa de Varzim, como sucede aliás noutras terras, ao do Divino Espírito Santo.
Embora hoje já não exista na Póvoa de Varzim nenhuma Confraria ou Irmandade de S. Telmo, ficaram no entanto vestígios da devoção e culto que eram prestados ao Santo sob a forma de uma imagem em pedra de Ançã do séc. XV onde figura S. Telmo, propriedade da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa e exposta no Museu Municipal e uma outra, mal identificada na base, na Igreja Matriz.

 

Quando uma lancha nova saía pela primeira vez, mantinham as mulheres da campanha, até ao seu regresso, uma vela ou lamparina acesa no altar do Santo, altar que era coberto de luzes por ocasião de tempestade. As luzes ali postas apareciam nos mastros, dando ânimo aos mareantes e acalmando as tormentas.

O culto ainda não desapareceu de todo: quando se realizou a Exposição Marítima, lá estava a imagem e junto a caixa de esmolas. Os pescadores ajoelhavam ao passar por ela e alguns deixavam as suas esmolas, afirmando que “apegando-se” ao Santo viram acalmar tempestades, salvando-se de morte certa. (1)
A importância das atividades marítimas na Póvoa de Varzim é também documentada pela devoção a S. Pedro Gonçalves Telmo, corporizada na escultura do séc. XV, em calcário policromado e proveniente da antiga Capela de S. Tiago. Trata-se de uma peça emblemática, de grande importância histórica e simbólica, por representar este santo dominicano que foi considerado o protetor dos mareantes hispânicos na época dos descobrimentos. Em todos os portos importantes hispânicos, principalmente a partir do séc. XV, encontramos capelas dedicadas a S. Pedro Gonçalves Telmo, que refletem a devoção dos marinheiros a S. Telmo. O fenómeno atmosférico que provoca o aparecimento de uma luz “fantasmagórica” no alto dos mastros, em altura de tempestade, era por todos apelidado de “Fogo de Santelmo”. Atendendo a esta “manifestação”, tem a imagem de S. Telmo exposta no Museu Municipal da Póvoa a representação estilizada de uma embarcação, com o cesto da gávea em destaque, para suportar uma vela ou lamparina. O círio aceso e o livro são os seus atributos iconográficos mais frequentes. Esta imagem pertenceu à primitiva Igreja Matriz da Póvoa de Varzim (antiga Igreja da Misericórdia) pertencendo atualmente à Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim estando exposta no Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim.
A outra imagem a que se faz referência encontra-se na Igreja paroquial de Nossa Senhora da Conceição da Póvoa de Varzim (Igreja Matriz). Esta imagem identificada na legenda da base como sendo Santo Isidóro, será muito provavelmente S. Telmo. De facto o santo veste hábito dominicano e não de lavrador, como usaria Santo Isidro, ou como bispo, o que envergaria Santo Isidoro de Sevilha. Poderá tratar-se de um S. Telmo, devido ao barco que lhe colaram ao lado direito e ao livro que apresenta, aberto, na mão esquerda. (2)

(1)- informações recolhidas no livro “Fogo de Santelmo” de Augusto César Pires de Lima de 1943.
(2)- informações e fotos gentilmente cedidas pela Dra. Deolinda Carneiro, Diretora do Museu Municipal da Póvoa de Varzim.


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